Giap-Brasileiro, s.n. Você conhece o pós-guerra? + Os fascistas - 2 de Novembro 2005

1. Wu Ming: você conhece o pós-guerra? Resenha de 54 (Agencia Carta Maior)
2. Os fascistas! Um conto de Wu Ming 1


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crianças fascistasWU MING: VOCÊ  CONHECE O PÓS-GUERRA?

Não existe essa história de pós-guerra. Os tolos chamavam de paz o simples distanciamento do front. Os tolos defendiam a paz apoiando o braço armado do dinheiro. Defendiam um simulacro de planeta. Conheça "54", a nova obra de Wu Ming, lançada no Brasil pela Editora Conrad.

Marco Aurélio Weissheimer

Como você pode garantir que suas experiências são reais? Até onde você tem coragem de questionar? A partir de que ponto uma conspiração torna-se verdade? Essas são algumas das perguntas que atravessam 54, livro do Wu Ming, coletivo de escritores nascido na Itália. A obra está sendo lançada no Brasil pela Editora Conrad, que também já publicou o livro anterior do grupo, Q – O caçador de hereges. Os cinco autores que assinam como Wu Ming (que, em mandarim, significa algo como "anônimo"), definem-se como "uma banda de rock que não faz música, mas literatura". Luca Di Meo, o Wu Ming 3, estará no Brasil para lançar 54. No dia 1° de novembro, em Porto Alegre, durante a 51ª edição da Feira do Livro (no Memorial do RS). No dia 3, em São Paulo, onde lançará o livro na livraria Hai-Kai. Em ambas as atividades, Wu Ming 3 falará sobre o grupo e sua obra, marcada, entre outras coisas, pela defesa do copyleft, o livre direito de distribuição de informações sem fins comerciais.
Logo ao abrir 54, o leitor terá uma surpresa. Uma foto de Cary Grant! A orelha anuncia que uma suposta relação entre ele e a KGB será investigada.
Logo após a aparição de Cary Grant, uma advertência: "Não existe essa história de pós-guerra. Os tolos chamavam de paz o simples distanciamento do front. Os tolos defendiam a paz apoiando o braço armado do dinheiro (...) Os tolos combatiam os inimigos de hoje alimentando os de amanhã. Os tolos estufavam o peito, falavam em liberdade, democracia, em nosso meio, comendo os frutos de invasões e saques (...) Defendiam um simulacro de planeta".
Tudo começa na Frente Iugoslava, primavera de 1943, com uma advertência aos soldados italianos que integram as forças de ocupação: "seus governantes querem convencê-los de que o povo esloveno gosta de vocês, e só uns 'pouquíssimos comunistas' estão oferecendo resistência; isso é uma grande mentira (...); muitos de seus companheiros de armas já tombaram nessa luta; e vocês continuarão tombando, dia após dia (...)".

A corja fascista de Mussolini

Até aqui, o leitor ainda permanece no escuro sobre o tema do livro. O material de divulgação da Conrad avisa: "54 reúne em sua trama atores famosos, líderes políticos, conspirações, KGB, ideais revolucionários, história e ficção. Os autores realizaram uma grande pesquisa a respeito da Segunda Guerra Mundial. Aos fatos históricos e personalidades encontrados nos arquivos, somam-se passagens fictícias". Pois bem, essa história, que se estenderá por 600 páginas, começa então na Frente Iugoslava com a advertência aos soldados italianos "sobre a terrível condição em que Mussolini deixou o Império italiano, vendendo-o a Hitler". "Entendam, soldados italianos, que a única salvação para vocês, e para todo o povo italiano, é voltar as armas contra os que só causaram desgraça a vocês e a nós: a corja fascista de Mussolini!". O comunicado é assinado pelo Comitê Central do Partido Comunista da Eslovênia.
Mas as primeiras vozes da história são de eslovenos prestes a ser fuzilados por soldados italianos. "Os habitantes deste lugarejo abrigaram rebeldes comunistas! Os mesmos que ontem à noite assassinaram covardemente dois soldados italianos! Vocês foram avisados! Quem der cobertura aos bandidos, quem lhes oferecer proteção e os acolher é culpado de colaboração e pagará com a vida!", diz um oficial italiano. Dez habitantes do lugar serão fuzilados. Uma surpresa. Três soldados italianos viram seus fuzis contra seus oficiais. "Parem todos! Aqui ninguém vai atirar." "Capitão, jogue a pistola no chão", ordena um dos soldados. Um conflito se seguirá entre a própria tropa italiana. Seu resultado não será contado aqui. Esse será o primeiro "acontecimento anterior" relatado no livro. Virão outros, no território livre de Trieste e em um genérico "ao redor do mundo", ambos em 1953. É a preparação para entrar em 54.

Quando os bons são os maus

Um artigo no jornal espanhol El País afirmou: "Não falta (a 54) nenhum dos elementos de um best-seller. Tem amores tórridos, porém impossíveis, amizades que resistem ao tempo e complicadas relações familiares. O que o diferencia dos típicos best-sellers norte-americanos é que desta vez os bons são os maus: os pobres, os oprimidos e os idealistas". Na verdade, as diferenças são bem maiores, a começar pelo modo coletivo de composição da história. O cenário onde os "bons maus" movem-se é o ano de 1954. A década de cinqüenta costuma ser apresentada como um período de tranqüilidade após as turbulências trágicas da Segunda Guerra Mundial. A realidade é um pouco diferente. Se é verdade que foi uma época de alívio após a carnificina da década anterior, os anos 50 tiveram a guerra na Coréia, a guerra na Indochina, guerras de libertação nacional em vários cantos do mundo e, especialmente, o recrudescimento da Guerra Fria, processo que atravessou, com diferentes ênfases, os conflitos citados.
A década de 50 é também um período de expansão do capitalismo que passou a penetrar comunidades e modos de vida em vários cantos do mundo. Tendo a televisão como um de seus pontas-de-lança, o estilo capitalista de vida varreu boa parte do planeta. O capital passou a circular pelo globo cada vez com maior velocidade e com ele também o crime organizado. Em 54, Wu Ming conta um pouco essa história. E conta de um modo bastante peculiar, que o afasta ainda mais dos chamados best-sellers. Desde sua origem, Wu Ming trabalha com a idéia de uma linguagem baseada na narração de histórias. Para seus integrantes a linguagem referencial tradicional não fala da vida das comunidades, não comunica paixões, emoções e sentimentos. Acreditando que o que mantém uma comunidade unida e coesa é a sua própria história, suas obras são um contínuo exercício do ato de narrar, de contar histórias.

De Lucky Luciano a Cary Grant

E essas histórias articulam-se através dos capítulos, juntando personagens como o mafioso Charles "Lucky" Luciano e o ator Cary Grant. Mas não há nada aleatório. Cada uma delas é uma peça de um mosaico maior. Somos apresentados ao primeiro no hipódromo de Agnano, em Nápoles: "na tribuna, Salvatore Lucania acendeu um cigarro e observou o vento levar embora a primeira baforada de fumaça. Tinha tirado as luvas e agora estava quase arrependido: o frio era intenso. Virou-se para o Cavalier De Dominicis e disse: - Mas esta não é a cidade d'o sole (do sol)? Caralho, ate parece que estamos em Nova York, de tanto frio!". Mais adiante, indagado sobre quem escolheria para interpretá-lo na tela, Luciano responde: "Cary Grant, of course". E encontraremos o próprio Cary Grant, mais adiante, em várias situações, "em uma praia perdida da Dalmácia, perseguido por três sujeitos", ou indo conversar com o marechal Tito sobre um possível filme.
Essas histórias, que podem parecer um culto ao non sense para um leitor distraído, na verdade, tentam reconectar laços que estão escondidos, ou pior, que nunca foram devidamente ligados. Assim, somos levados a ler histórias sobre a KGB, o marechal Tito, Cary Grant, o tráfico de drogas, o cinema e a televisão. A televisão, sim, ela tem um lugar especial. "Desde o início, McGuffin revelara-se um televisor fora do comum. Em 5 de março, com menos de um mês de vida, tinha surpreendido o dono da casa com a sensacional notícia da morte de Iosif Visarionovich Djugashvili, mais conhecido como Stalin. Graças à tela de luminosidade fisiológica, ninguém da família tinha cansado os olhos seguindo a interminável transmissão ao vivo da sentença contra Ethel e Julius Rosenberg, acusados de espionagem a favor da União Soviética e condenados à morte". Bem-vindos a 1954. Bem vindos ao universo das histórias de Wu Ming.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/agencia.asp?coluna=visualiza_arte&id=3658


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OS FASCISTAS

por Wu Ming 1 (primavera 2005), traduzido por Ned Ludd

crianças fascistasEu queria apenas dizer o seguinte: "Fascismo" não é o problema, os fascistas são. Quero dizer, o sujeito da esquina, as pessoas reais.
Pouco tempo atrás os fascistas viviam na quinta dimensão de Tony Binarelli[1], mas agora eles estão mais próximos. Abrimos o jornal e sentimos o seu mau hálito. Ligamos a TV e nos perguntamos quando foi a última vez que chamamos o limpa-fossas. A caixa de gordura estará cheia?
Quando eu era criança não sei se cheguei a ver algum fascista em carne e osso. Aprendi a ter desprezo por eles, eu os achava repulsivos. Sem exageros, meus familiares nunca me catequizaram, não houve nada disso. Talvez fosse o ambiente. Um amigo meu teve dois filhos, e um dia um deles perguntou: - papai, o que é um fasista? – Ao qual ele docemente respondeu: - Fascistas são animais que vivem no esgoto.
É uma ótima pedagogia, se posso dizer assim, mas não havia necessidade disso em casa, éramos uma família de comunistas, e essa já era uma pergunta respondida.
Fui criado em uma pequena vila, com cerca de mil habitantes. Fazia vários anos que não voltava lá. Além disso, quando eu ia, eu apenas encontrava meus parentes mas nunca andava pela vila. Recentemente coisas estranhas aconteceram por lá. Uma vez por ano, carecas nazistas e veteranos de guerra fascistas se encontram no município vizinho para comemorar os seus "caídos" – eles poderiam muito bem cair de lugares mais altos, se assim posso dizer, eles ainda não se machucaram o suficiente.
Todo ano, aquela massa se torna uma parada de figuras estranhas e repulsivas, usando calças apertadas e alvejadas e enchimentos dentro das cuecas. Quando eles passam pelo monumento da Resistência, eles xingam, atiram ovos e levantam seus dedos médios. Todo ano eles causam um escândalo, comentários indignados aparecem na imprensa local, as autoridades os condenam publicamente, mas ninguém faz absolutamente nada! Nenhum balde de merda jogado nos estúpidos. Nenhum ex-partidário em idade avançada pegando seu rifle de 1945 perfeitamente preservado, surgindo da janela e atirando nos filhos da puta mesmo que fosse a última coisa que fizesse na vida. Nada.
Outra coisa estranha acabou de acontecer na minha vila natal, a menos de um mês atrás. Em 1944 um aviador da colaboracionista República de Saló[2] levantou vôo com seu avião e foi abatido pela RAF (não a RAF alemã, de Ulrike Meinhhof; quero dizer a RAF britânica, a Força Aérea Real). Eles o abateram próximo a Argenta, no meio de um vasto pântano. Ele sumiu. Nenhum traço dele ou sequer do avião. Um avião não pode desaparecer desse jeito, mas foi o que aconteceu, simplesmente. O aviador era da mesma vila que eu.
Sessenta anos depois, alguns "caçadores amadores de aviões abatidos" (eles realmente existem, eu li no jornal) percorreram o interior e, não é que eles acharam o avião? Que bosta.
O que aconteceu em seguida: os moradores da vila se apressaram em organizar uma grande manifestação de boas vindas de volta ao filho... da vila. Até aí nada imprevisível, a questão é que foram participar do evento autoridades militares (em 1944 o governo legítimo era o do Sul, liderado pelo marechal Badoglio, o que as autoridades militares tinham a ver com um cara que lutou sob ordens de um governo marionete implantado pelos nazistas?), assim como algumas das mulas velhas que eu mencionei acima – eles talvez também tivessem estufado suas cuecas, não sei.
Em poucas palavras, a manifestação se tornou uma demonstração revanchista dos fascistas. O prefeito democrata de esquerda disse: - Por diabos, eu não irei! – e alguém reclamou, falando da "insensibilidade demonstrada pelo prefeito", da "escolha sediciosa do prefeito" etc.  O que o cara podia fazer, por deus? Se acotovelar com nazistas, fazer a saudação romana, enfiar uma vassoura no cu de modo que ele pudesse andar e varrer o quarteirão da igreja? Não, acho que ele fez a coisa certa. Em suma, fascistas andam nas ruas que eu costumava andar quando criança. Não havia nenhum recuo até então. Os fascistas estavam longe, em um remoto segundo plano. Tanta atmosfera entre eu e eles que nem sequer pareciam estar de preto, eles eram azul claro.
A primeira vez que vi fascistas em quarteirões próximos, eles estavam longe ainda. Quero dizer os fascistas fascistas, os de verdade, não os posers que conheci no colégio. Era primavera de 91 quando uma quantidade deles atacou violentamente a Sala Branca do Departamento de Literatura, rua Zamboni, 38, Bolonha. A Sala Branca era "autogerida pelos estudantes", isto é, pelos Autonomistas[3], isto é, por nós. Para dizer a verdade, era apenas um lugar para ficar, não havia nada lá. Eles entraram com paus, lutando heroicamente contra ninguém, espalharam o nada por todo o espaço, e foram embora orgulhosos. Não lembro a quais sub-espécies eles pertenciam, a Frente da Juventude, a Frente Unida... Se não me falha a memória, foi alguns dias antes da eleição estudantil. Os candidatos da extrema-direita concorreram sob o nome "Sturm und Drang" (nós imediatamente renomeâmo-los "Strunz und Sprang", imitação de alemão soando "Stronzi e spranghe", Imbecis Com Paus), mas os dois grupos talvez não tivessem nada a ver um com o outro.
Alguém tinha os visto antes do ataque, juntos num bar na rua Belle Arti que chamarei de O Besouro. Decidimos atacá-los quando estavam bebendo café, fazendo-os sentir o cassete entre o lábio e o cálice (sem metáfora incluída). O problema é que, eles estavam esperando por nós. Eles saíram por baixo de um andaime, usando capacetes e balançando pedaços de pau. Paramos do outro lado da rua, não estávamos preparados para aquilo. Não sei por que os dois grupos ficaram inertes, a poucas dezenas de metros um do outro. No andaime havia um servente de pedreiro. Ele desceu silenciosamente, atravessou  rua... e nos deu um cabo de pá! Uau, muito obrigado companheiro! Seja bem-vindo, tenha um bom dia.
Sentindo-nos novamente reconfiantes pela solidariedade popular, recuamos e retiramos o calçamento de alguns metros quadrados da rua Zamboni. Quando aparecemos novamente, os fascistas tinham ido embora. Havia apenas alguns policiais, e o bar estava desprotegido. Atiramos pedras na janela, apenas para deixar o dia completo. O dono do bar, juro, correu pra fora e berrou: - Por favor, não me interpretem mal, eu não sou de direita, eu costumava dar dinheiro para Prima Linea[4]! – Que coisa desconcertante para se ouvir. Não sabendo o que fazer em seguida, chamamos uma reunião pública, como os judeus revolucionários de A Vida de Brian.
Quase não tenho lembranças daquela reunião. A única frase que lembro é: - Fascistas não são nem um problema meramente político e nem um problema meramente militar. Eles são tanto um problema político quanto militar. – Oh, que profunda sabedoria!
No dia seguinte alguns fascistas colocaram uma mesa colhendo abaixo-assinados nos portões do Departamento de Direito. Não sabíamos se eram os mesmos caras ou não, mas, ora bolas, e daí? A Sala Branca se abriu e dela saíram guerreiros totalmente encouraçados. Os jornais haviam coberto a bagunça do dia anterior, e queríamos sair bem na estampa. Capuzes de lã (no final da primavera!) e cassetetes de madeira de vários tamanhos. Um camarada tinha até um extintor de incêndio, e um outro cara chegou a fazer um lança-chamas rudimentar, usando uma lata de spray e um isqueiro. Mesmo os companheiros mais sanguinários olhavam para ele como se fosse um louco o qual não se deveria contradizer.
Nos dirigimos à praça Verdi, nosso Ok Corral[5]. A rua estava bloqueada por uma linha da tropa de choque, atrás da qual estava a mesa com abaixo-assinado. Os fascistas estavam lá, a cerca de duzentos metros, nada mais do que pequeninos homens à distância. Entre os capacetes dos policiais vimos braços levantados, bastões (ou seriam cartazes enrolados?), e idiotas usando Ray Bans, embora pudesse ser o caso de dissonância cognitiva: fascistas costumam usar Ray Bans, portanto os vimos.
Éramos um bando de palhaços. Um dos companheiros começou a explicar seu entendimento da situação, balançando seus braços no ar, esquecido do pedaço de pau que tinha na mão. Acidentalmente acertou outro camarada no nariz.  O pobre rapaz teve que ser levado para a Sala Branca, com sangue espalhado por toda sua cara. Machucamos a nós mesmos mandando se foderem.
Lá ficamos sem que nada acontecesse quando Luca, que viria a se tornar Wu Ming 3, levantou um pé do chão, apontou um dedo na direção dele e disse: - Estou usando botas feitas na loja do squat Leoncavallo. A sola está desgrudando, o que farei se os policiais atacarem, hein?
Naquele preciso momento, os policiais atacaram. Quando batemos em retirada, a sola de Luca descosturou, o buraco começava da ponta dos dedos, parecia uma boca se abrindo para morder o calçamento. Luca tropeçou enquanto um policial berrou a ele: -  Seu merda! Monte de bosta! – Luca tentou proteger a cabeça com os braços, que acabaram sendo atingidos repetidas vezes. Suas mãos permaneceriam bem inchadas durante toda a noite.
A contagem de corpos final: dois feridos. Um tinha sido atingido por engano por um companheiro, o outro tinha sido ferrado pela costura das botas de Leoncavallo. Pode-se falar de um luta fraticida na esquerda.
No dia seguinte, a seção local do jornal L'Unità publicou uma foto de nós totalmente encouraçados, parecia o Carnaval de Cento, estávamos absolutamente ridículos. O título dizia: "Autonomia alinhada na rua Zamboni". Grande negócio.
Alguns meses depois, na calada da noite, os fascistas foram pegos colando cartazes. Dessa vez, levaram uma surra sem fanfarras. Algo silencioso, discreto.
Do que estávamos falando mesmo? Ah, sim, os fascistas estão mais próximos, limpa-fossas, caixas de gordura etc. Eu apenas queria dizer isso: os fascistas não são mais vagos reflexos de Ray Bans. Eles não são mais os sujeitos que você sai para caçar ou que caçam você, e que de vez em quando você troca insultos e eles sacam uma faca ou algo do tipo, mas parecendo que vivem em outro mundo, como os alienígenas naqueles desenhos japoneses dos anos 1970. Não sei como explicar, mas é como se eles estivessem realmente muito perto agora, e eles são asquerosos de um jeito que não se pode imaginar. Talvez seja aquela besteira no "foibe"[6] que me deixa puto, talvez todos aqueles squats queimados pelos nazistas, talvez isso ou aquilo, mas a situação está terrível.
Ah, esqueci de dizer: o aviador, foi derrubado pelos britânicos em 1944. Como pode ele estar numa lista de um site fascista (o "Amici della Flogore") como uma vítima da ‘brutal justiça comunista' do pós-guerra, como se tivesse sido morto por células secretas de ex-partidários? Será se eles confundiram a RAF de Winston Churchill cm a de Ulrike Meinhof? Quem sabe. De qualquer forma, é um bom exemplo do quão confiáveis essas "listas de vítimas" são. E não há nada comparável à farsa "foibe", mas isso é outra história.


[1] Tony Binarelli é um famoso mago italiano. O topo da sua popularidade ocorreu durante os anos 1980, quando ele parecia estar na TV 24 horas por dia. Naquela época, quando ele queria hipnotizar alguém, ele dizia: "Relaxe... não pense em nada... agora você está na quinta dimensão". Provavelmente não é a mesma quinta dimensão da música do The Byrds. Visite o site de Tony em http://www.tonybinarelli.com (N.T.)

[2] A República de Saló foi fundada por Mussolini, em uma pequena cidade do norte da Itália, quando este foi libertado em 1943. Veja mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Salo (N.T.)

[3] Autonomia era uma corrente da esquerda italiana, surgida no final dos anos 1960... (N.T.)

[4] Prima Linea era uma organização armada de extrema-esquerda, que se dissolveu no início dos anos 1980 (N.T.)

[5] O Curral Ok, em Tombstone, Arizona, nos Estados Unidos, tinha uma cerca de madeira, uma ferraria, e espaço para meia dúzia de carroças e cavalos, que geralmente chegavam exaustos e bebiam a água dos cochos cavalarmente. No dia 26 de outubro de 1881, no Ok Corral, três irmãos da família Earp - Wyatt, Morgan e Virgil -, reforçados pelo dentista-tuberculoso-pistoleiro Doc Holliday, resolveram apelar (depois de muito enrosco) para uma dramática definição a chumbo com Ike e Billy Clanton, Frank e Thomas McLaury, e Bill Brocius. Matar ou morrer, e nenhuma opção no meio. Quando as balas pararam de voar, só 30 segundos depois, havia três mortos contorcidos sangrando no meio da poeira: os dois McLaury e o mais jovem dos Clanton, Billy. Ike e Brocius tiveram tempo de se mandar. Só de filmes já foram feitos 80 nos Estados Unidos sobre o tiroteio de Tombstone (N.T.)

[6] Foiba; denominação de algumas cavidades nas rochas da área limítrofe nordestina da Itália. No fim da I Guerra Mundial, a Itália, como potência vencedora, estendeu seu território na península da Ístria e na Dalmácia, sob o pretexto de que estas partes eram "historicamente" italianas. Um processo de italianização foi levado a efeito, particularmente durante o regime fascista, com a supressão forçada de línguas eslavas e a adoção de nomes de pessoas e topônimos italianos, medidas estas acompanhadas da repressão do movimento dos trabalhadores no restante da Itália. Após a queda do regime fascista em abril e a rendição do novo governo em setembro de 1943, o Exército de Libertação Nacional Iugoslavo assumiu o controle de parte da Ístria e manteve o poder ali de três a quatro semanas. Ocuparam estas posições até que os nazi-fascistas fossem capazes de restabelecer o controle, massacrando l3.000 ístrios e destruindo vilas inteiras. Ao final da II Guerra Mundial verificou-se que no intervalo do domínio guerrilheiro um certo número de pessoas tinham sido mortos e seus corpos atirados no interior das foibe. Calculou-se em 200 o número dessas vítimas, predominantemente líderes e policiais fascistas e colaboradores que tinham prestado serviços à ocupação nazi-fascista. Indubitavelmente, ocorreram alguns casos de justiça sumária, muitas vezes perpetrados pela população local em desobediência às determinações dos guerrilheiros. Mas o fato representou a reação de pessoas comuns enraivecidas pelas terríveis matanças e atrozes sofrimentos infligidos pelos fascistas à gente do povo. Todavia, todo o episódio tem sido exagerado fora de suas proporções pela direita italiana, que periodicamente o traz à baila como exemplo da "violência comunista", em especial quando há discussão pertinente às atrocidades nazistas ou à brutalidade do regime de Mussolini. Proclamam que as vítimas foram mortas somente pelo motivo de serem italianas, numa operação de limpeza étnica. Para ter uma idéia dos exageros, apenas 20 corpos foram recuperados da foiba de Basovizza. Não obstante, falam de 500 metros cúbicos de corpos, isto é, de aproximadamente 2.500 pessoas (N.T.).


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